O segredo da nostalgia nos videogames

Um pouco sobre saudade e escapismo

Daniel Schettini
2 min readMay 18, 2020
Ilustração por Sebastian Szmyd

Normalmente, quando converso sobre videogames acabo falando de algum jogo ou console que me marcou de alguma forma. Seja a título de comparação ou simplesmente porque eu gosto de relembrar.

E sei que não sou o único.

Comumente escutamos a famigerada frase começada com “no meu tempo os jogo…”. É curioso pensar o quanto o videogame fala com o nosso passado, mesmo que não percebamos. Para mim, os games sempre serão gatilhos emocionais. Quando entro online para jogar com os amigos é impossível não me lembrar do quanto dividir experiências em games marcou uma fase, supostamente boa, da minha vida.

Mas curioso mesmo é o quanto achamos que as coisas eram realmente boas.

Algumas de minhas memórias costumam me ludibriar. Às vezes, o que parece é que só lembro do que gosto de lembrar. Ou talvez as coisas que eu amava fazer, como assistir Cavaleiros do Zodíaco ou passar a tarde na minha avó, jogando com meus primos, faziam com que tudo de ruim ficasse para trás.

Será?

Quando somos mais jovens temos menos responsabilidades e dedicamos os nossos esforços ao que gostamos realmente de fazer. No meu caso, minha grande preocupação era descobrir o que acontecia quando eu chegava na última fase de Flicky, no Mega Drive. Se o mundo lá fora estivesse explodindo, tudo bem! Mas o que não podia acontecer era a assombrosa Lua se chorar com Termina no final do último dia. Como eu permitira isso? Jamais.

Toda essa leveza do passado ficou presa nos meus cartuchos, que guardei na gaveta. E algumas das lembranças que escolhi guardar me remetem a essa época. Época em que os games sempre estiveram por ali, no canto ou no centro do retrato. É fácil ligarmos as coisas boas aos nossos passatempos antigos, já que eles eram tão importante para nós. E, naturalmente, sentimentos falta deles e associamos seus detalhes a qualidade e satisfação.

Daí vem a nostalgia do “no meu tempo era tudo melhor”.

E é por isso que, nos tempos de hoje, quando experimento um game que me faz lembrar os títulos que, um dia, me fizeram cair de amores por um videogame, eu logo reservo alguns sorrisos de canto de boca. Os “games nostálgicos” não me dão, necessariamente, saudades dos jogos que me marcaram, mas sim da época em que eu podia jogar sem ter que me preocupar com o que acontece quando desligo o videogame.

No fim, somos feitos do que gostamos de lembrar.

Tudo é história. E os “games nostálgicos” nos fazem repetir para nós mesmos as histórias que não queremos esquecer. Sejam elas sobre videogames ou não.

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Daniel Schettini

Roteirista, podcaster, quase-youtuber e apaixonado por videogames.